eu quero existir
em outra realidade
quero pensar
sonhar e mentir
cansei da minha verdade
não brinco mais
não volto atrás
talvez eu deva
ou até queira
conhecer a maldade
o bom já não faz bem
o certo não mais convém
me pergunto:
o que é que tem?
em pisar fora dessa linha
há tanto tempo
traçada no chão
me pergunto:
por qual mão?
quem é o mantenedor?
quem é que me chaveia
me tranca, me reprime
e corre nas minhas veias
tenta me salvar
me proteger
me preservar
de todos os perigos
fontes de frustração
dos piores inimigos
de compreender a extensão
desse mundo que me chama
lá de longe, lá de fora
e de tudo que nele habita
e suspira por minha inocência
pela virgindade de minhas desaventuras
pelos nós das minhas costuras
tão pequenas e humildes
ainda feitas a mão
mas de todo esse esforço
todo ele, em cada grão
no final de sua jornada
terá sido em vão
eu já não espero na janela
aqui por estes lados
a vida já não parece tão bela
ao ver o sol nascer quadrado
abre a portinhola
me liberta, me solta
desta maldita gaiola
e deixa estar
deixa ser
o que for
o que vier
o que tiver de vir
o filho pródigo
a casa não torna
se dela não puder sair
e se acaso eu me tornar
tal esperada decepção
acredite, ao menos,
o serei com toda a dignidade
de meu imaturo coração
e, só assim, experimentarei
a tola felicidade
de receber o meu quinhão
1 comment:
lindo...........
poema vivo...
abraço
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