Monday, March 03, 2008

Mais nada..

As horas passam sem que se possa distinguir uma da outra. Transformam-se em dias, semanas, meses; que passam iguais. Anos que passam em branco.
Ou em preto.
Como se fossem sempre o mesmo. Acordar, comer, trabalhar, ser uma ferramenta social sem utilidade. Ser empurrado pela corrente. Viver uma vida que não escolheu. Comprar o mais barato, desejar o mais caro, guardar dinheiro pra quem sabe um dia fazer uma porção de coisas que sempre quis. Pra ter uma porção de coisas indispensáveis que servem pra nada, mas todos compram e são tão bonitas, dão tanto status. Adquirir os objetos de desejo, realizar objetivos, concretizar “sonhos”, jamais sentir-se satisfeito. Sentir-se sozinho. Sentir-se único. Reconhecer-se mundano. Perceber-se ordinário. Querer encontrar um sentido para a existência. Esquecer o assunto em uma noite de bebedeira. Estabelecer princípios, jogar-se aos precipícios da tentação. Deixar-se levar pelas mãos suaves e inocentes do prazer. Tornar-se insaciável, vangloriar-se de suas loucuras, de suas perdas, de sua miséria. Encontrar um cítrico prazer na reclamação, na infelicidade, na depressão. Deixar se espantar por uma morte prematura. Preocupar-se com a própria morte, decidir tomar as rédeas da vida, endireitar-se. Entediar-se. Arrancar os cabelos, perder as estribeiras. Assistir televisão. Perder a cabeça, perder a opinião. Ler um bom livro. Voltar á realidade. Perder-se no caminho para si mesmo. Chorar a morte de um animalzinho. Sorrir para o sol, o céu e as estrelas. Amar-se em uma noite fria, debaixo do calor das cobertas. Querer estar vivo, por pior que a vida seja ou pareça. Guardar uma expectativa eterna. Mesmo que faltem mais alguns segundos, mesmo que tudo pareça terrível, que não apareçam meios de melhorar. Sentir que ainda há alguma possibilidade de melhorar, de acontecer algo incrivelmente bom nos últimos minutos, que tudo seja salvo. Para que mesmo que tudo tenha sido entediante, sem graça ou extremamente desagradável, algo de maravilhoso fará valer a pena. E morrer.

1 comment:

Anonymous said...

Uma vez, quando muito pequeninho, ganhei um livro chamado "Pobre Corinthiano Careca". No livro tinha uma frase de um personagem, como se fosse um versinho sacaneando outro: "coitado do Dirceu: chegou, peidou e morreu". Piadinha com palavrão pra pirralho rir, mas depois de uns anos acho que isso sintetiza bastante coisa.