Tuesday, June 26, 2007

O Espelho Mágico das Ordens Ordinárias

Um dia você cai da cama e vai trabalhar, e descobre que nunca fez questão de ver o seu nome na capa dos jornais enquanto toma um belo café-da-manhã; fica só com o belo café-da-manhã.
Descobre que não sabe por que pensava em aparecer na tal da televisão, nem por que ter uma banda era tão importante assim.
E não faz a mínima idéia de por que ser tão mitológicamente maravilhoso e atraente era necessário.
Não pensa mais naquele carro, que só habita os sonhos e os comerciais de cigarro (talvez a garagem de um vizinho podre de rico e excêntrico).
Não cultua mais aquele físico que só pode ser mentira, ou fruto de uma vida tão sofrida, que não pode ser que valha a pena o esforço desumano.
Esquece daquelas roupas estranhas, que custam os olhos da cara, mas que "todo mundo" usa (e que esse parecia um bom argumento pra comprar e pagar em trinta vezes à perder de vista com juros absurdos).
Deixa de lado toda aquela história de parecer legal, inteligente, culto, viajado e uma porção de coisas que você não é , nunca foi e provavelmente nunca será, e mesmo que fosse, isso não faria nenhuma diferença substancialmente positiva.
De repente, você dá a todas aquelas sensações momentâneas a real relevância que elas merecem: nenhuma; especialmente aquelas que deixam um efeito nocivo duradouro ou permanente.
Raciocina de verdade, pela primeira vez, sobre a urgente necessidade de se ter algo que mal se sabia que existia, quem dirá pra o que serve.
E se pergunta sériamente o que faria com todo aquele dinheiro que sempre quis. E por quê.
Se coloca em lugar que você mal lembrava que existia. Se sente tão grande, tão especial, por ser um ser único e individual.
Ao mesmo tempo que tão mundano e pequeno, por ser um entre bilhões, e existir no meio de um universo tão gigantesco que mal se pode imaginar o quão gigantesco é.
Por alguns segundos, tudo parece tão claro, tão óbvio. Tudo faz sentido.
Por que estamos aqui, o que devemos fazer. E parece tão fácil, tão simples, que seria de ordem da mais completa estupidez ignorar tudo isso.
Seria tão animalesco ignorar tudo isso. A infinita beleza da estrutura humana, todas as faculdades mentais de que se pode gozar, tudo que se pode alcançar e sentir. Se lembra de todo o valor daquele amor que você esqueceu que existia. E de como o amor é absolutamente necessário. Sente que tem alguma idéia do que é o amor verdadeiro, e se sente feliz com isso.
Seria indescritívelmente idiota deixar tudo isso pelas coisas mundanas e passageiras que nos seduzem com tanta facilidade.
E com um sorriso nos lábios, a força de um revolucionário com os poderes de mudar o mundo, e a devida humildade que lhe cabe no final das contas, vai em frente.
Para o seu destino, o seu trabalho, fazer o possível para o progresso de todo o sistema ao seu redor.
Mas, tão subitamente quanto veio, se foi.
As dores voltaram, os sentimentos pueris, as vontades incompreensíveis e toda a estupidez irrefreada e sem sentido.
Com uma veia latente, grita, xinga, buzina.
O revolucionário voltou para o seu lugar de origem, algo perto da Terra do Nunca.
E parece que foi alguma coisa entre o preço da gasolina que subiu de novo e o filho de uma mãe de carrão zerinho que cortou a frente.

2 comments:

Anonymous said...

parece que novamente vc tirou as palavras da minha boca, como se as tirasse sempre hauhauahauhau xD
Mas como vc mesmo disse, isso passa, passa bem rápido, tão rápido quanto chega xD
E é claro que teus textos estão sempre bons, e mesmo se inspiração eles ficam excelentes :D
te amo prima, mesmo que vc namore aquele cara chato e grande, e que não me dê atenção

Anonymous said...

Quem dera nascêssemos burros. Tristeza não existiria...