Talvez..

Talvez eu devesse ir lá. Ir lá e fingir.
Fingir que sou um deles. Fingir que não sei de nada e que não acredito em nada, me entupir de entorpecentes pelo puro prazer de me mesclar na multidão.
De ser diferente, igual a todo a mundo.
Talvez eu devesse ir lá e dançar. E beber e fumar. Brincar de viver uma mentira que acaba junto com a noite. Um teatro de fantoches, sem nenhum objetivo.
Talvez eu devesse obedecer. Obedecer os ditames de uma maioria ensandecida, desobedecer minha razão. Anular minha existência e ignorar minha consciência.
Talvez eu devesse parar de pensar, parar de ser uma doença perturbada e ser um deles.
Quem sabe se eu fingisse que não sinto dor nenhuma, que não ouço nada, talvez eu conseguisse fingir que sou um deles. Fingir que gosto daquele som, que gosto daquelas pessoas e que nada me faria mais feliz do que estar lá, esvaziando o quinto copo de alguma coisa em cima da ferida no meu estômago.
Talvez fosse mais saudável fingir que sou convencional, nadar com a corrente ao invés de ficar batendo nas pedras e me afogando o tempo todo.
Talvez o tempo resolva. Talvez...