Hoje quando acordei, levei uns trinta segundos pra reconhecer meu quarto.
O que é essa parede rosa? Eu nunca gostei nem de rosa, nem de verde.
Muito menos da combinação de rosa com verde. Menos ainda nesse tom pálido e idiota.
Olhei minhas mãos. E que mãos pequenas! Que mãos pequenas são essas?
Uma trança longa de cabelos negros repousando em um travesseiro meigo demais pra ser verdade. Um quadro retratando a paisagem de um lago com alguns cisnes, um painel de fotos.
Quem seriam aquelas pessoas? O que estaria eu fazendo naquele lugar estranho?
E de repente, como uma bigorna vinda do céu, todas essas informações bruscamente atingiram minha cabeça com uma violência ímpar.
É claro que um dia eu gostei de rosa, mas eu realmente nunca quis um quarto dessa cor. E é claro que eu não posso pintar as paredes de preto, roxo, vermelho ou qualquer outra cor que não seja tão gay ou tão besta, por que a tinta que usaram para pintar meu quarto foi a de melhor qualidade e até que tenham pintado toda a casa novamente, eu não posso me dar ao luxo de mudar as cores das paredes no mesmo compasso das minhas idéias.
Obviamente minhas mãos são pequenas, não tenho nem dezesseis anos ainda, e tenho ossos minúsculos; não somente pela minha carga genética, mas especialmente por que eu sou a porcaria de uma menina.
E é ainda mais claro que aquelas fotos, tanto quanto a minha aparência e o meu quarto são exatamente o contrário de meus abstratos e metamórficos ideais. Ou, pelo menos, uma opção muito distinta.
As vezes dá medo de deixar alguém se aprofundar neste universo perturbado, o que seria automaticamente dar a esse alguém um documento assinado permitindo-o me considerar a mais completa idiota que já pisou neste planeta infeliz. As vezes dá medo de acordar, e ver aquele teto rosado rindo da minha cara. É claro que há muito eu deixei de me importar com as cores, quando problemas maiores, com o diferencial de uma consoante e um incômodo lancinante começaram a me perturbar.
Cores? Quem precisa delas?
Pra que pensar em mudar as cores, quando mal se pode esticar o braço pra alcançar a garrafa de água, que está em uma posição especialmente difícil de alcançar quando o músculo que possibilita o movimento do ombro se encontra ardendo e pulsando de dor? Pra que se preocupar com cores, quando todos os remédios que podem aliviar as dores lancinantes das costas, o mínimo que seja, provocam uma dor mais intensa no estômago?
Quem liga pra cores, pra fotos e quadros quando se é reprovado injustamente? Acusado injustamente? Rejeitado, desprezado, julgado e arrastado para O Mundo das Coisas que Eu Não Queria que Acontecessem?
Quem liga pra cores quando se torna um desagradável e rabugento reclamão antes dos dezesseis anos? Um depressivo melodramático se afundando em seus lamúrios idiotas, a quem ninguém dá a mínima.
Agora eu digo: fodam-se as cores! Eu não ligo pras cores. As cores são só mais um elemento desagradável n'O Mundo das Coisas que Eu Não Queria que Acontecessem.
As cores não me deprimem mais que nenhuma outra coisa. As cores são peixe pequeno.
Mas é justamente por causa das cores da parede do meu quarto, no qual, vou viver pelo menos mais dois anos e considerando O Mundo das Coisas que Eu Não Queria que Acontecessem, provavelmente mais que isso, que eu me baseio em tudo o mais na minha vida.
Eu tenho aquele sentimento interno de insatisfação pulsando dentro de mim, pronto pra se expandir se expandir e se expandir e apontar e rir da minha cara dizendo que eu sou uma fracassada. Sim, esse sentimento me odeia, e considerando que ele é parte de mim, logo eu me odeio também, e isso não é nenhuma descoberta.
E apesar de as vezes eu querer me esforçar pela minha momentânea satisfação e bem-estar, é lógico que no fim, o jogo vira e eu estarei novamente insatisfeita com tudo, deprimida, trancada no meu quartinho cor-de-rosa de listras verdes, pensando em o quanto tudo é uma bosta.
E eu quero que isso aconteça, talvez menos inconscientemente do que possa imaginar. Eu me deleito em minha própria ruína, meus próprios atos me levam até lá. E minha vida vai seguir essa mesma bosta enquanto essa parte de mim existir. O problema é que ela vai além de mim mesma, ela tem duração eterna, ela é indestrutível. Ela sabe disso, ela sabe que eu sei disso e enquanto eu escrevo isso, ela ri da minha cara. Ela projetou, com suas próprias mãos O Mundo das Coisas que Eu Não Queria que Acontecessem e me trancou dentro dele, obviamente, com a minha ajuda.
E eu espero fervorosamente que não tenha nenhum visitante deste blog que seja psicólogo ou psiquiatra, pois a leitura deste texto claramente levaria a um diagnóstico que constataria não somente esquizofrenia, como também um certo mazoquismo e tendências suicidas, sem contar em toda a história da depressão e blablablá.
Agora eu ia digitar "não sou louca, eu juro", mas acho que isso só confirmaria tudo.
Acho que vou colar uns painéis nas paredes, que tal?
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5 comments:
kee,vc é especial d+,TD MUNDO um dia tem pensamentos digamos não-normais,basta vc supera-los. Na boa vc tem um potencial aloprado pra ser uma Cronista,plz nao desperdiça isso!
;*
realmente mto bom, coisas e mais coisas que não podemos controlar, eu não consigo mais falar nada minha cabeça vai esplodir xD
kii =D
olha soh, tava pensando...
o mundo nao eh o bastante pra sua inteligencia, pra sua criatividade, pra sua capacidade
ja falei pra vc que vc eh uma genia xD
agora.. ja que a vida eh um cu com agent
oque agent tem que fazer eh rir dela xD
como agent faz as vezes.. falando bobagem das coisas no msn
rindo atoa =P
bejo ki =D
te amo ta \o/
=**
Não sou psicóloga XD
Mas acho que vc está depressiva e pensando coisas que não condizem com os teus conceitos, com a tua religião. Acho que vc mais do que ninguém sabe porque tudo isso tah acontecendo, ou pelo menos tem uma idéia do porquê.
Mas o texto tah engraçado XD
Vim no notebook e tu não tava hoje de manhã ;-;
De tarde volto, se não voltar estarei amanhã =D
=***
E répi bãrfdei =B
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