Monday, June 02, 2008

O combustível

Eu quero algo que teste meus limites. Quero aprender um ofício, quero compreender uma língua nova e que me pareça impossível, quero fazer coisas grandes e dizer que é só o começo. Quero um desafio de verdade. Ou inventar uma verdade só pra mim. Eu quero ter o poder de realizar tudo àquilo que me parece improvável, quero ir além do que minha própria mente almeja. Quero me impressionar com meus próprios feitos, quero acordar e pular da cama, para anotar todas as idéias com as quais sonhei. Quero um mundo ao meu alcance e que dos meus sonhos ele tome uma forma, ganhe sua própria vida e invada o mundo real. Quero a calmaria do anonimato e o conforto do estrelato, e em meio a tudo isso, quero um lugar pra chamar de lar. Quero me sentir parte de alguma coisa e a criadora de uma série de outras e que elas só acabem muito depois de mim. Quero uma vida que engrene e saia do lugar, que rode constantemente e que seja maior do que eu, que esteja à frente de tudo que eu saiba ou possa fazer. Quero uma mente cheia de idéias, planos e projetos. Quero mais sonhos, mais sono e mais tempo acordada para concretizar tudo e quero tudo ao mesmo tempo e quero agora. Quero explodir de alegria depois de um insight e poder me deitar em horas de minha melancolia. Quero minhas tristezas sempre comigo, para que me concedam a bênção da reflexão e quero absorver a sabedoria do sofrimento, sem deixar que uma gota escape. Eu quero a angústia, quero sentir o desejo pelo gosto de minhas lágrimas. Quero sempre ter muitas coisas pra fazer, quero prazos, quero horários e quero uma ordem a ser seguida à risca. Quero ser obrigada a fazer muitas coisas que eu odeie ou das quais eu morra de medo. Quero águas quentes demais, dias frios demais e um desconforto inquietante. Quero uma tarde chuvosa e deprimente, quero noites de insônia e muitas decepções. Quero tantas quantas forem necessárias. Quero sorver esse amargo combustível de vida, que faz meu coração bombear este sórdido sangue que circula por essas veias que me recheiam. Quero tudo de uma vez, mas que não me esmague o tanque do tédio ou o trem da inércia. Que não me despedace a carne as engrenagens do nada, que tão rapidamente consome os ociosos. Que minha mente não seja levada pela ignorância, pela indiferença, pela monotonia, que meu cérebro lute por uma vida que não lhe seja facilmente entregue. Antes de qualquer coisa, eu quero uma vida, que seja só minha, que eu possa inventar do começo ao fim.

3 comments:

Anonymous said...

"If you wanna run cool / You've got to run / On heavy, heavy fuel". Lutar contra o ócio em estado de sobriedade é difícil e, por isso, admirável. Mas acho que tarefas e obrigações já são entorpecentes o bastante pra quem não necessariamente vê nisso uma incomodação. Também quero uma vida assim, mas haja boa vontade...

Anonymous said...

Sinto a mesma coisa às vezes. Mentira, sempre. Preciso de algo que me faça lutar pelos objetivos que reinam somente na minha mente. É difícil e sempre perco.
É a vida... (ou não).

Anonymous said...

quanta coisa, hein.....!