Sexta-feira fui assistir à uma peça de teatro, evento não muito comum por aqui. Mas enfim, lá estava eu, apreciando tanto quanto possível (críticas a parte).
Tinha uma idéia interessante, os diálogos eram profundos e as situações tensas.
Mas de repente, em uma altura da peça, começou a tocar algo que não deve atender pela alcunha de música.
"Tati Quebra-Barraco", é o nome da responsável por tal agressão aos ouvidos e mentes que lá estavam. Meu objetivo não é comentar a minha surpresa a respeito do gosto, ou a capacidade de alguém se divertir e simpatizar com , independente de voz ou melodia (também desagradáveis), mas com letras tão xulas, que se referem diretamente a um ato sexual com as piores palavras possíveis para isso. Nada disso é novidade, o mundo está cheio das mais diversas insinuações possíveis, diretas ou indiretas, tanto na música, quanto na televisão ou em qualquer outro meio de comunicação. Os pervertidos estão aí, e cada um no seu canto fazendo o que bem entender.
É aí que eu quero chegar: cada um fazendo o que quer em seu canto!
Por que o público de uma peça, cujo gosto certamente não passa nem perto desse tipo de coisa, foi obrigado a passar pela terrível experiência de ouvir aquilo na íntegra, em volume perturbadoramente alto?
Obviamente, depois de algum tempo pensando no assunto, decidi que o meu intelecto está kilômetros abaixo dos intelectos dos gênios que idealizaram a coisa toda. Simplesmente, não é pra mim. Não consigo nem imaginar em como uma coisa se encaixa no contexto da outra, e se o objetivo era agredir, por que agredir e por que agredir com aquilo, daquela forma.
Enfim, desisti mesmo.
Mas por outro lado, me ocorreu um importante tópico.
O público que foi ao teatro, tendo estipulado um nível mínimo mentalmente, mesmo que sem se dar conta; se entreolhava com expressões constrangidas. Alguns envergonhados e sem-graça, outros tentavam fingir que não estavam ouvindo nada, mantinham a expressão séria (mas era impossível negar que foi tão chocante quanto surpreendente, para todos). Era como se um ponto de interrogação gigante tivesse se formado sobre as cabeças na platéia, em meio ao constrangimento e a indignação. Claro que o que ainda domina minha cabeça a respeito daquilo tudo são perguntas; que não passam de inconfundíveis "por quê?"s, mas se colocada em outro contexto, a situação faz sentido. Me fez abrir os olhos pra outra coisa.
Todos os dias acordamos, comemos, respiramos, trabalhamos e estudamos em um mundo, que nos é comum. Quer dizer, todos os dias eu vejo determinado tipo de pessoas, ouço determinado tipo de vozes, sotaques, sons, programas na tv, como tais comidas e assim por diante. Esse é o meu universo, e a reação diante de algo fora dessa programação é inevitável. Considerando o tamanho do mundo e o tamanho da ambição, quer dizer, o planeta é razoávelmente grande. Tem um belo número de pessoas, um belo número de culturas, hábitos, costumes, gostos, faces, etcetera, etcetera.. E ainda mais com esse intercâmbio de gente, inter-racialidade, paladar, idioma e cultura, essa globalização que nos pega pelos pés e nos choca com sua diversidade.
Eu me pergunto: tem como sobreviver, sem se acostumar ao choque?
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2 comments:
Com certeza, porém não seria bom que isso acontecesse u_u
Passariamos a ser indiferentes aos incidentes chocantes.
Realmente constragedor e impactante a música, fora que totalmente sem explicação uma música de tão baixo calão em uma peça teatral, nada a ver com o tema ou com qualqer parte do espetáculo.
Mas é o que aconteceu hj em dia, impingim-nos esta vulgarização sexual a todo instante e o funk é o maior instrumento, incentivam essas letras xulas, com a desculpa de que faz parte da cultura do povo.
É o Brasil que eles estão construindo para nós.
surpreendente... uma perspicácia admirável...
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