Me diga alguma coisa importante, me diga qualquer coisa. Não quero ouvir nenhum som além da sua voz. Diga o que for, o que quiser, nada me importa além do som das suas palavras ecoando nos meus ouvidos. Dos movimentos da sua boca pronunciando os fonemas, e os seus dentes aparecendo um pouco, quando os lábios se esticam em uma ameaça de sorriso. Um sorriso de deboche, um sorriso de excesso de alegria, um sorriso sem propósito. Qualquer sorriso eu guardo, no armário dos meus sorrisos preferidos que tenho na memória.
Minha identidade? Não sobra espaço para tal insignificância, pois os meus sorrisos preferidos ocupam todo o lugar.
Esqueci o que estava falando. Esqueci que dia é hoje. Esqueci meu nome. Quem sou eu?
Não importa, mas consigo lembrar nítidamente em uma memória fotográfica com a qualidade de infinitos megapixels, cada célula de cada um dos meus sorrisos preferidos.
O sorriso cansado, o sorriso edificante, o sorriso apaixonado.
Eu consigo ler o que está escrito nele, consigo ouvir seu suspirar, seu assobiar, seu ressonar.
Sua suavidade profunda, que toca o que eu achei que já havia perdido.
Eu me perco em mim procurando as lembranças dos sorrisos, e cada vez que abro os olhos, sou uma nova pessoa. Como quando aconteceu quando era novidade, apesar de ter ficado um tempão acontecendo.
Três anos? Não, acho que foram uns trezentos anos, ou melhor: quatrocentos e quatorze.
Só me preparando, esperando por você. Se é verdade? Não tem como saber. Mas quando eu abri os olhos, vi os seus, e vi os meus no reflexo dos seus. Não dava pra acreditar que eu estava me vendo lá, mas era como se ironicamente e independente da natureza ou de qualquer ação e reação, causa e efeito e tudo que houver no mundo, eu estava lá. Dentro dos seus olhos, como sempre, de alguma forma, eu estivera. Sorri, com a naturalidade da alegria incomensurável que sentia, sem nem perceber. O sorriso mais sincero que eu já tinha conseguido mostrar em meu desesperançoso semblante. Sem pretensão, sem saber que os próximos segundos seriam os melhores segundos da eternidade (ou os primeiros segundos da introdução da melhor era da eternidade?).
Foi quando eu vi aquele sorriso. O meu nos seus olhos, mas quando vi o seu, não vi mais nada.
Não, mais nada precisava ser visto além dele. Era a imagem que contemplava todo o resto que nunca havia feito sentido antes. Meu coração bateu mais forte, senti um frio no estômago, um arrepio que percorreu toda a coluna vertebral e iluminou o cérebro, como uma idéia nova em folha, com o poder da melhor idéia do mundo. Nesse momento, cada partícula de pensamento se renovou, era uma nova mente, uma nova alma nascendo. Senti meu coração bater e bombar sangue para todo o corpo, como se fosse a primeira vez, senti os glóbulos viajando pelas veias. Senti quatro gotinhas de suor se formando na testa, em câmera lenta. Sim, o tempo havia parado há algum tempo.
Senti meus pés, flutuando. Senti meus cílios, e eles eram pesados. O calor de um coração completamente novo pulsando fervorosamente, como se ele dissesse "Agora vale a pena". Ele havia um sentido. Se sentia vivo, se sentia um coração, que existia por um motivo. Não simplesmente manter aquele punhado de células andando, comendo, dormindo , fazendo as coisas erradas e sofrendo por isso. Pela primeira vez, valeu a pena bombar sangue pra que esse corpo pudesse fazer o que quer que ele tinha que fazer. Agora, ele tinha o que fazer. Tinha finalmente encontrado uma bifurcação no caminho negro que vinha percorrendo, uma bifurcação iluminada, um lugar que levava a outro lugar, um lugar que valia a pena conhecer, nem que fosse só por um momento, pois aquele momento, por mais curto que fosse, valeria por todos os séculos de sofrimento pelos quais havia passado, só pra chegar lá e passar por aquele momento.
A face rubra não poderia revelar metade da nova realidade na existência daquele ser, até então, sem propósito algum. E na cabeça, todas aquelas coisas que não entendia direito estava acontecendo, mas as outras coisas que nunca havia entendido até então se definiram, como mágica. Aquela palavra estranha... AMOR! Ela não sabia dizer com as palavras humanas que haviam lhe ensinado desde tão pequena, mas com o pensamento, finalmente entendia o que vinha por trás dessa palavra. O que alguém achava que queria dizer com a tal palavra. Ela soube que precisava mesmo ter que se sentir viva primeiro, de verdade. E agora um universo colorido estava sendo pintado nos seus sonhos. "Agora tenho uma razão", pensou com todas as composições confusas que formavam seu complexo. "O amor é isso", pensou que finalmente havia resolvido a questão. Era como se de repente tudo fizesse sentido (em palavra humanas), era como um bom motivo pra sempre ter estado aqui procurando um motivo pra estar. Como ainda querer muito, apesar de tudo ter estado, até então, na outra direção. Seus olhos lacrimejaram, sorriu mais ainda, e quando sentiu braços, envolvendo-na, aproximando-na do melhor abraço da vida, do universo e tudo mais, teve mais certeza ainda.
Era aquele o seu lugar. Era aquele o seu amor, o famoso e tão comentado amor de sua vida. Era amor, finalmente. Era amor pela primeira e única vez (pois amor mesmo, só se é uma vez, afinal).
Era o amor, e nada além do amor. Simplesmente, amor.
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3 comments:
Aee xDD,Pelo Visto tá bem mais feliz,faz tempo que a gente não se fala,mas se lembra das nossas conversas sobre o tempo? Pois é =),Ele cura tudo Mesmo,Deus Nunca nos deixa na mão!!
Mas SÉRIO,vc ta mto mais feliz pelo texto ;O
[purple]Que texto alegre e animado...
amor influência a criação?
certamente sim!
com louvas
eis o mistério da criaçãooooooooooooo...
muito bom
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