Momento Aleatório

O café estava esfriando. E o ambiente ia pegando aquele ar inóspito, dava até pra imaginar o som dos grilos. Ninguém entrava, ninguém saía. Ninguém fazia nada.
A sala sem vida.
Parece que quando você está esperando alguém chegar, olhar pra porta faz com que o tempo páre e nada aconteça durante séculos.
E os séculos fazem questão de passar bem devagar.
De se fazer sentir, em cada segundo. Cada instante.
Uma criança brincando no chão. Um inseto sobrevoando aleatóriamente, os insetos nunca querem nada, com suas vidas aleatórias. Uma brisa aleatória entrando pela janela. Um vôo aleatória de uma mecha de cabelo aleatória. Vida aleatória. Mundo aleatório.
Desisto e levanto. Vou embora. Embora do mundo, eu queria. Embora de tudo que é certo.
Do outro lado da rua, outra criança brinca. Não uma criança como a criança1, mas a criança2.
A criança2 não tem ninguém , ela brinca como que com ironia, com qualquer coisa no chão.
E o que eu tenho com isso?
Nada, não mesmo. Absolutamente nada. Milhares de outras crianças estão na mesma, ou eu pior situação neste exato momento. E eu? Nem eu estou em um bom lugar. Não é onde eu quero, não é o que eu quero. Mas é o que está pra mim, assim como está pra criança2, pra criança1 e pro inseto aleatório.
Ainda estou aqui, e a brisa carrega meus cabelos pra direção errada.
Ainda estou aqui, esperando que alguma coisa aconteça.
Ainda estou aqui, no lugar errado, na hora errada, fazendo a coisa errada. Mas para todas as coisas erradas, sou eu a pessoa certa.