Não mesmo.

E ela fechou as cortinas.
("Um dia tão lindo" disse a vizinha, lavando a calçada novamente, sem se preocupar com os avisos relativos à seca que a televisão anunciava.)
Mas ela fechou as cortinas.
Fechou as cortinas e voltou a deitar, como se não fosse um ótimo e ensolarado domingo para se fazer seja lá o que as pessoas fazem em um ótimo e ensolarado domingo.
Não poderia fazer o que tinha que fazer, naturalmente, havia aquele bloqueio físico-psíco-ultra-super-sônico, que impede as pessoas de cumprirem suas obrigações. Não poderia fazer o que queria fazer, pois não queria fazer o que queria fazer e nem o que não queria fazer, por que nada não queria fazer. (Eu nunca disse que não era complicado, tampouco que era!)
Enfim, era esse o impasse: não havia impasse algum.
Era só mais um estúpido domingo. Um dia tão inútil quanto qualquer outro, só que mais explícitamente.
É lógico que durante a semana as coisas pra fazer se multiplicam em alta velocidade. Mas aí está o ponto: quais delas ela realmente queria fazer?
"Nenhuma", murmurou pra si mesma, como se estivesse em uma sala repleta de gente barulhenta.
Não queria fazer coisa alguma!