Não consigo tirar meus olhos de você.

Seus pensamentos eram leves, e isso transparecia no seu sorriso.
Aquele sorriso meio enviesado, quase tímido.
Seus olhos eram perfeitamente amendoados, de cílios longos.
Tão belos que a cor tornava-se um artifício tolo diante de tal moldura.
Não era uma beleza fácil, a sua. Não era daquela beleza convencional, que cansa de se ver em capa de revista.
Era um rosto quase angelical, quase inocente. Um rosto familiar.
Um rosto gostoso de se ver. Que te faz sorrir só de lembrar.
Suas mãos brandas, macias, tocaram minhas mãos.
Sua boca rosada sussurrou aquelas palavras. Me fizeram sentir idiota.
Rasa, vazia, corriqueira.
Sua atenção me provocava essa sensação. Essa euforia, essa agonia.
Essa vontade de correr em círculos. Vontade de morrer, por todas as conseqüências provenientes da sua presença. Por todas as sensações proporcionadas pela sua deliciosa indiferença.
O ser humano tem esse problema. A indiferença instiga, encanta. A indiferença varre qualquer impossibilidade. A indiferença apaixona do jeito que a paixão deve ser: dolorida, horrível.
Seus lindos olhos fizeram aquela expressão que significava tudo que eu mais queria evitar por toda a minha existência.
Eu quis evitar aqueles olhos, mas eu não consegui. A fraqueza faz parte de mim. A fraqueza me consome.
A leviandade e a luxúria.
Seus lábios me deram toda a sensação que eu sempre quis evitar deles.
Eu teria que conviver com essa lembrança. Vindo justo daqueles lábios tão doces e macios, lábios que já me fizeram querer que o mundo acabasse, pra evitar que qualquer outra coisa acontecesse entre meu êxtase máximo e minha morte.
Seus doces lábios me envenenando. Um veneno com cheiro de álcool. Um veneno com gosto de despedida.
O gosto daquilo que você vive disposto a não viver.
Gosto de dor, gosto de não poder amar.
Assim como você disse que deveria ser.

The Blower's Daughter