Saturday, March 04, 2006

Éramos quatorze.

Faz pouco tempo.
Eu tinha quatorze anos. E odiava cada um deles.
Quero dizer, quatorze anos: o que se pode fazer com isso?
Tudo que se tem aos quatorze anos é incredibilidade.
Bem, eu tinha que fazer alguma coisa.
Mas como eu tinha quatorze anos, eu fiz a coisa errada.
E de novo. E mais uma vez depois. E outra depois dessa, só pra não deixar as duas primeiras sozinhas.
Mas também ..eu tinha quatorze anos, po!
E depois de todas as coisas erradas, além dos quatorze anos e incredibilidade, eu ganhei castigos.
E juntando castigos com incredibilidade, dava no maravilhoso resultado de ficar presa em casa contra a minha vontade.
Bem quando eu queria sair.
Quando eu achava que tinha que sair.
Quando sair fazia parte da minha sobrevivência social, psico-emocional e ambiental.
Quando eu não sabia de nada e achava que tinha tudo sob controle.
Quando (não me envergonho de admitir), descobri que as pessoas beijam quem elas não gostam. Aliás: quem elas não gostam, quem elas não sabem se gostam, quem elas não estão interessadas em parar pra pensar se gostam e quem elas não conhecem.
E , mais do que qualquer outra coisa, conheci pessoas.
Pessoas que pareciam querer coisas muito diferentes do que realmente queriam. Pessoas que não queriam nada. E pessoas que, sem sucesso, gostariam de querer alguma coisa.
Conheci também o que todas elas tem em comum: o álcool.
Coisa que todo o resto do mundo também tem em comum.
E se é o bem comum da humanidade, por que não?, foi o que a minha cabeça de quatorze anos pensou, julgando-se muito sábia.
E foi jogando a água ardente na boca, para que ela deslizasse pelo meu esôfago e chegasse em meu, já prejudicado estômago, para depois me alterar as noções, que eu descobri a coragem.
No mesmo dia, descobri que muita coragem acaba provocando vômito.
E que todas as coisas supracitadas, são erradas, sob a ótica de minha progenitora.
O que acaba provocando também mais castigos.
Castigos e uma má fama na família, a qual não tem muito em comum com o álcool e o resto do mundo.
E depois de assimilar este novo e definitivo fato que mudaria minha vida para sempre, eu iniciei um novo ritual.
Eu comecei a odiar coisas. Eu já odiava meus quatorze anos, o que era um bom começo. Então passei a odiar relações amorosas.
Minha família, meu cabelo, meu corpo em puberdade e sem definição e minha professora de religião.
Mas antes que eu percebesse, entre os meus passos em falso e minhas conclusões impressionantes, o tempo foi levando meus quatorze anos.
Levando os quatorze e trazendo mais um pra se juntar ao grupo infeliz.
O tempo foi trazendo mais tempo, que foi trazendo a espera e a expectativa.
E agora só restam anos a fio, aos quais se reservam muitas coisas para dar errado, muitas coisas para concluir e muito a conhecer .
Dos quatorze anos restou o medo de todos os outros anos.
E a saudade de permanecer a salvo naqueles medos e vontades bobas que compõe esta parte tão estúpida da vida.

4 comments:

Anonymous said...

"E juntando castigos com incredibilidade, dava no maravilhoso resultado de ficar presa em casa contra a minha vontade.
Bem quando eu queria sair.
Quando eu achava que tinha que sair.
Quando sair fazia parte da minha sobrevivência social, psico-emocional e ambiental."

E depois de um ano, vc jah percebeu que tudo que tua mãe fez foi pro teu bem... ;)

Anonymous said...

mto bom mesmo =D não adianta a Kiara é foda xD bjão pra vc te ador0 ;D

Anonymous said...

Estou beirando os 18 e vejo como estou melhor do que quando tinha 14.
Tu sabes que eu entendi o texto o bastante pra fazer um comentário leviano desses.
Só me questiono o que eu estou fazendo na tua vida ainda. Ou o que faz com que tu me mantenha nela...
Bjos, mana o/ Amo tu!

Anonymous said...

eu não uso álcool. nunca fiquei bêbado.